Por James Leonard, Comunicações Universitárias
Traduzido por Gracy Durães Mantoan
Chris Fradkin, professor e ex-aluno da Universidade da Califórnia em Merced, está indo para o Brasil em busca de “ciência perdida.”
O termo, “ciência perdida,” criado pela primeira vez em 1995 por W. Wayt Gibbs em um artigo da revista Scientific American, refere-se à quantidade incalculável de pesquisas científicas viáveis que não são lidas ou descobertas devido às dificuldades e barreiras enfrentadas pelos pesquisadores nos países em desenvolvimento ao redor do mundo.
Esse é um assunto preferido de Fradkin, que recentemente foi agraciado com uma bolsa do Programa Fulbright para continuar sua pesquisa sobre os muitos fatores que impedem os cientistas brasileiros — e, por extensão, os de outras nações “emergentes” — de disseminar com êxito seu trabalho para o mundo científico em geral.
Em 2014, depois de completar seu Ph.D. na UC Merced, Fradkin iniciou uma bolsa de 14 meses no Brasil. Durante esse período ele teve a oportunidade de editar um número especial de uma revista cujos artigos foram traduzidos do português brasileiro para o inglês.
“Os artigos foram supostamente traduzidos profissionalmente para o inglês, mas eles eram quase ilegíveis para mim,” disse ele. “A versão em português estava clara, mas a tradução não transmitia as mesmas idéias, a mesma visão. Estava sofrível em muitas maneiras.”
No entanto, a tradução de artigos não é o único fator que explica a batalha que cientistas das nações BRICS — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, consideradas pelos economistas como nações “emergentes,” que logo poderiam ser consideradas “desenvolvidas” — tem enfrentado ao longo dos anos.
Por exemplo, a Alemanha — uma nação desenvolvida — não usa o inglês como uma linguagem padrão para a ciência ou o comércio. Mas está na proximidade de várias nações europeias que o fazem, por isso a maioria dos cientistas aprendem a usar Inglês, a fim de comunicar em conferências e com seus colegas.
O mesmo não pode ser dito dos cientistas das nações BRICS mais isoladas, que devem percorrer grandes distâncias para colaborar com colegas de língua inglesa. Sem essas colaborações e a notoriedade que poderiam receber entre esses colegas, os cientistas brasileiros lutam para colocar seu trabalho em revistas de alto nível.
Fradkin já começou a pesquisar os fatores que bloqueiam os cientistas brasileiros na “internacionalização” de seu trabalho — ou em criar um impacto a nível internacional.
Em um estudo recente, ele descobriu que simplesmente fornecer traduções em inglês não era suficiente, indicando que a qualidade dessas traduções deve melhorar. Além disso, ele descobriu que um dos preditores mais significativos do impacto internacional de uma revista brasileira não é o número de contribuidores que falam inglês que colaboram em seus artigos, mas o número de membros de língua inglesa de seu conselho editorial.
“A análise de Chris sobre as revistas de psicologia do Brasil foi precisa, imparcial e crítica,” disse Lilian Calò, coordenadora de comunicação científica do Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde. “A comunidade científica não pode tratar os autores brasileiros de maneira condescendente quando submetem um artigo a uma revista internacional. Acho que a pesquisa que Chris está conduzindo nos faz um tremendo favor em mostrar nossas contribuições e, mais importante, nossa capacidade de continuar contribuindo.”
Enquanto ele continua desenvolvendo e aperfeiçoando sua pesquisa, Fradkin espera ajudar a descobrir a “ciência perdida” do Brasil — algumas das quais poderiam ter um grande impacto internacional se comunicadas da maneira correta e nos lugares certos.
“Pode haver descobertas em uma revista brasileira que ligue a poluição da água aos defeitos congênitos, por exemplo, nas favelas de São Paulo,” disse Fradkin. “Isso pode ser de enorme valor para cientistas nos EUA, no Reino Unido ou na França. Mas há tanta coisa para ler que os cientistas não estão procurando em revistas que publicam esses artigos, e eles não têm tempo para tentar decifrar uma tradução mal feita. Torna-se uma enorme barreira.”
O Programa Fulbright, que visa aumentar o entendimento mútuo entre os povos dos EUA e os povos de outros países, é o principal programa internacional de intercâmbio educacional patrocinado pelo governo dos Estados Unidos.
“O Fulbright permite que estudantes internacionais façam uma imersão nos Estados Unidos, e envia pessoas como eu para outros países para participarem e colaborarem com pessoas menos fluentes em inglês,” disse Fradkin. “Promove o alargamento da nossa experiência e o desenvolvimento de relações, que neste dia e idade é essencial.”